17 abril, 2008

sobre a verdade

Se o conhecimento está relacionado a interesses e pode ser manipulado, podemos afirmar a existência da verdade?

Confirmar ou negar a existência da verdade depende, inicialmente, da perspectiva utilizada para reconhecer o que se estabeleceu como verdadeiro. É pertinente compreender que a verdade possui alguns atributos que podem, independente de relativismo, fazê-la transitar entre lados que, ora correspondam ao que conhecemos como verdadeiro, ora não. Dentre os atributos sugeridos está a historicidade da verdade, o referencial utilizado, a interpretação dada, o reconhecimento da utilidade e funcionalidade desse conhecimento, entre outros.

O interesse surge, em última análise, como norteador do que se afirma ser verdade, vale pensar que se trata de interesses orientados histórica e culturalmente. Mas se o conhecimento é dado a partir de interesses pessoais e coletivos, variando de acordo com o status dos que compõem a sociedade, está ligado ao modo como é reconhecida a realidade e, sobretudo, como esta é traduzida e transmitida através da linguagem.

Dessa forma, a pergunta inicial se desvela em pontos que podem se opor, determinando certo cuidado ou contextualização para afirmar ‘sim’ ou ‘não’ como resposta. Pontuando:

1. Reconhecer a realidade como verdadeira pressupõe um conhecimento válido, possível e confiável; tal conhecimento é produzido e difundido através da cultura pela linguagem e afirma o poder de quem o detém, portanto, motivado por razões particulares e convenientes, não sendo, desta forma, neutro, nem absoluto;

2. O interesse em descobrir, explorar a natureza, sejam quais forem as justificativas utilizadas, geram conhecimentos que servem de base para outros, que podem influenciar a percepção da compreensão da realidade, admitindo pré-conceitos, que nos levam a repetir um conhecimento sem questioná-lo, portanto, dado à falácia;

3. O comportamento humano é orientado pela forma como conhecemos e procuramos estabelecê-lo de um modo que pareça imparcial e objetivo, visto que há uma tendência em manter um cenário social, político e cultural estável. Nesse caso, o conhecimento pode ser aplicado como forma de controle e dominação. Assim, é conveniente caracterizá-lo, nesse âmbito, como detentor de uma verdade imparcial, objetiva e única. Ou seja, dogmatiza-se o conhecimento em função do controle das massas;

4. Contudo, me parece impensável, ao menos num primeiro momento, questionar, invariável e constantemente, o que é dado como verdade. As relações humanas necessitam de certa estabilidade, que acaba sendo fruto e frutificando a dogmatização do conhecimento, ficando a cargo de poucos a inquirição persistente sobre se é verdade o que de verdade nos é posto. Certamente, é por esta razão que afirmamos ser o conhecimento um instrumento de manipulação, que, entre outras coisas, reforça a naturalização da realidade concebida.

Conhecimento é poder porque condiciona a verdade. Não há, portanto, "a verdade", há possibilidades de se identificar, dentro de uma perspectiva, num dado momento histórico, aspectos que favoreçam a compreensão de fatos e fenômenos como detentores de conceitos inquestionáveis, mesmo que provisoriamente. A verdade, quando colocada como absoluta, reflete mecanismo de controle, e, mesmo na nossa sociedade, imersa em dogmas, aprisionada em uma caverna, pode e deve ser questionada e propor a dúvida do que é dado como pronto. Afinal, foi a partir dessa característica especulativa e curiosa, questionando o visível, pra compreender o que está além dele, que foi possível chegar à infinidade e complexidade do conhecimento acumulado pelo homem.

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